O primeiro subúrbio de Salvador foi a Rua da Misericórdia

Sete ruas faziam parte do núcleo original da Cidade do Salvador, as ruas traçadas numa planta que o mestre-arquiteto Luis Dias trouxe consigo na esquadra de Thomé de Souza que aqui aportou em 29 de março de 1949. Em maio do mesmo ano a cidade já ganhava forma com a derrubada da mata, o aplanamento do terreno, a construção das primeiras casas residenciais e edifícios públicos e a cerca de taipa que seria um muro para proteger os moradores de eventuais investidas dos índios ou de fogos de artilharia vindos do mar.

O muro determinou os limites geográficos da cidade entre as portas de Santa Luzia construídas no local onde hoje é a Praça Castro Alves e as Portas de Santa Catarina construídas na hoje Rua da Misericórdia, exatamente no ponto em que passa a carroça da foto que ilustra este post. Ou seja, a Rua da Misericórdia ficava fora da cidade murada e por isso é lícito considerar que o primeiro subúrbio no sentido original da palavra de arredor de, periferia, tenha sido a referida via urbana que nasce a partir da construção da casa de assistência, também em 1549.

O Terreiro de Jesus era uma aldeia indígena e a Praça da Sé era terreno baldio. A Igreja da Sé só seria construída pelos Jesuítas a partir de 1.552. De modo que o subúrbio do lado norte da cidade ia da Misericórdia até o Terreiro de Jesus, mais tarde expandindo-se na direção do Carmo. Reparem na foto que é anterior ao alargamento do trecho entre a Sé e a Avenida Sete, provavelmente de 1910. Com exceção do paredão da Sé atravessada no final da rua, mantém as mesmas características.

A foto de Rodolfo Lindemann nos revela o cotidiano de uma cidade que já tinha alguns automóveis em circulação e trilhos de bonde, mas eram os burros de carga que roubavam a cena junto com as baianas que carregavam embrulhos na cabeça e a propósito vale curtir a ilusão de ótica do que parece uma carga pesada, mas é apenas um letreiro de loja.